Primeiro livro de fábulas 

              1.    Cão e gato para sempre

Era uma vez um lugar,  um campo aberto,  espaçoso,  todo coberto de verde.  Lá no fundo,  na direção do horizonte pairava um negro castelo habitado por uma bruxa.  Dentro do castelo havia uma masmorra e na masmorra estava presa a princesa,  a filha do rei.  A bruxa estudava a receita que sua mãe havia lhe ensinado de como fazer ensopado de princesa.  O caldeirão da bruxa estava fervendo e a bruxa lia e colocava os ingredientes lá dentro.  Enquanto isso, a princesa chorava e rezava na masmorra.  Pouco tempo ela tinha de vida.  A bruxa determinara que no dia 31 daquele mês,  após voltar da festa com suas colegas,  comemoraria sozinha o dia das bruxas comendo uma deliciosa princesa doce e branca como a neve.  Era o dia 30 de outubro.

Mas eis que aconteceu que naquele mesmo dia um certo cavaleiro andante passava por aquele lugar.   Ele viu o castelo na região do horizonte e uma voz disse a ele: “esse é o castelo onde está presa a princesa, a filha do rei”.  E então o cavaleiro decidiu que iria até o castelo,  resgatar a princesa, a filha do rei.  A bruxa,  porém,  com seu espelho mágico,  viu o cavaleiro se aproximando, e disse: “jamais deixarei que esse paspalho estrague minha festa.  Vou impedir com meus sortilégios que alcance meu castelo e, se mesmo assim o alcançar, não conseguirá chegar antes da meia-noite.  Rárárá”.

Então a bruxa fez aparecer um gigante de 30 metros para lutar contra o cavaleiro.  E o cavaleiro lutou bravamente.  Pegou um estilingue que guardava no bolso,  acertou a cabeça do gigante,  que caiu no chão morto.  A bruxa que tudo via por meio do seu espelho mágico ficou furiosa,  mas disse “isso não vai ficar assim”,  e então mandou uma manada de porcos atacar o guerreiro.   Ao ver a manada se aproximar, o guerreiro fez uma oração e a manada se desviou para a direção do castelo.  A bruxa sem entender ficou furiosa e na sua fúria fez aparecer na frente do cavaleiro um terrível dragão que cuspia fogo.  Ele avançava em direção do cavaleiro que habilmente se desviava do seu cuspe venenoso.  E houve uma terrível batalha entre o dragão e o cavaleiro.  O dragão atacava com fogo e o cavaleiro se desviava e a batalha permaneceu assim até que a bruxa começou a sentir fraqueza (eram as orações da princesa na masmorra que a enfraqueciam),  e a ter dor de barriga.  Com ela se enfraquecendo,  também o dragão começou a se enfraquecer,  e a medida que a fraqueza da bruxa aumentava também aumentava a fraqueza do dragão.  Então o cavaleiro aproveitando esse momento pegou sua espada,  deu um enorme salto e cortou a cabeça reptiliana do dragão,  que caiu morto no chão.   A bruxa viu tudo,  e ficou furiosa e desesperada,  disse: “Maldição! Isso não ficar assim!” Olhou para o relógio e viu: faltavam 10 minutos para a meia-noite do dia 31 de outubro.  Pensou consigo mesma:  “preciso expulsar esse cavaleiro daqui,  e já que nem o gigante,  nem os porcos,  nem o dragão foram suficientes, já sei o que vou fazer”.  Então a bruxa preparou um líquido e depois de tomá-lo tomou a aparência de uma bela jovem,  muito parecida com a princesa, a filha do rei. 

O cavaleiro ao ver a moça se aproximar ficou contente,  julgou que por algum milagre ela tinha conseguido escapar do castelo.  Mais eis que uma voz sugeriu a ele que rezasse uma “Ave-Maria” e a oração de São Miguel Arcanjo.  Ele,  embora julgasse desnecessário, o fez,  e eis que quando estava rezando a oração de São Miguel,  começou a sentir um cheiro podre que emanava da figura que parecia ser a bela princesa,  ele desconfiou,  notou que odor tão nauseabundo não podia ser da bela do filho do rei,  e percebeu se tratar de um engano.  A bruxa quando se viu desmascarada começou a gritar “Maldição! Maldição!”.  Tentou voltar para o castelo imediatamente com suas artes mágicas,  mas uma força maior a impediu,   o cavaleiro foi atrás dela com seu cavalo, armado de espada e escudo e a bruxa começou a gritar: “ajudem-me! ajudem-me!”.  Ninguém apareceu para ajudá-la,  nem suas colegas de trabalho, e a bruxa escafedeu-se.           

  Enfim,  livre da bruxa,  o cavaleiro pôde ir até o castelo,  pulou o muro e orientado pelo seu guardião conseguiu encontrar o local onde estava a princesa.  Viu-a desmaiada,  porque há muito tempo não comia nem bebia,  deu um beijo na princesa,  que lhe deu um tapa na cara pelo atrevimento,  e depois agradeceu o bravo cavaleiro por tê-la resgatado daquela prisão horrível.  Então os 2 sairam voando no cavalo (que era alado,  da mesma raça que o famoso Pegasus,  segundo os zoólogos),  foram para o castelo do rei,  que ao ver sua filha sã e salva nos braços do bravo cavaleiro o agradeceu e lhe deu a princesa para ser sua patroa,  para que ele a suportasse até o último de suas vidas.  Os dois se casaram e viveram como cão e gato para sempre.

    2.      Estudar pra quê?

Me lembro bem de certa vez em que estive na casa do Mendonça.   Da conversa que tivemos.  Discutíamos sobre a vida intelectual,  a dedicação aos estudos.  Em certo momento ele,   porque eu dissera que estudava por conta própria em casa,  sem professores,  apenas com o auxílio de livros,  e recorrendo de vez em quando a companheiros de estudo mais adiantados,  me disse: 

“Confesso que não te entendo.  Estudando desse jeito não serás nada na vida.  Deverias entrar numa universidade.  É para isso que o estudo serve,  para se ter um lugar na sociedade.  Além do mais,  tu pecas contra a humildade julgando que podes ser autodidata.  Não me leves a mal,  é melhor para ti que entres para a universidade.  Interessas-te por qual das ciências?”

Pensei em falar para ele do estudo feito para conhecer a realidade,  e estar de bem com a realidade e que, se eu aprendia com autores de livros e companheiros de estudo,  eu não era um autodidata,  mas achei que eu não iria conseguir falar ou que ele não iria me entender.  Então fui mais simples.  Disse:  pelas artes.

“Queres ingressar no Instituto de Belas Artes?”,  ele me perguntou.

  Respondi a ele:  “Não,  não falo das Belas Artes,  me interesso em estudar as artes liberais.  Conhece-as? Gramática,  Retórica,  Lógica,  Aritmética,  Música,  Geometria, Astronomia?

Ele disse a mim que eu estava muito confuso e indeciso.  Que eu não podia ser professor de línguas,  político,  cientista,  professor de matemática,  músico,  e astrônomo,  tudo isso.  Que se houveram pessoas que foram tudo isso,  foram alguns poucos gênios e era falta de realismo meu ter essa pretensão.

 Mas uma vez quis dizer para ele que não era por uma finalidade profissional que eu estudava.  Não estudava em busca de um ofício,  de um papel social,  mas da realidade.  Em vão.  Meu interlocutor já havia adquirido essa terrível visão negativa da realidade que reduz o estudo a uma atividade social,  com uma função social.  Resolvi desistir da conversa.  Convidei ele para uma partida de xadrez.  Ele com as pretas, eu com as brancas.  Ele ganhou.  Raciocinava mais rápido e com mais segurança do que eu.  Ao final da partida pude sentir nele um ar de superioridade,  de alguém orgulhoso de sua lógica. 

     3.     Uma alma beata

O dia preferido de Marília era o Domingo.  Era o dia da Missa.  Nesse dia a sua religiosidade,  do qual ela se orgulhava, encontrava a sua razão de ser.  De fato,  era muito religiosa.  Sempre que podia ia a Missa.  Não só nos Domingos,  também em dias de semana.  Confessava e comungava com freqüência.    

No entanto,  Marília,  com toda essa fé, nunca rezava em casa.  “Para que?”, dizia ela.  “Sozinha aqui em casa não tenho amigos,  na Missa tenho.  Por que iria rezar sozinha aqui em casa,  sem minhas amigas do grupo de oração da paróquia? Pura perda de tempo.  Religião,  fé,  não é para gente mesmo,  é para o próximo.  Não foi o próprio Nosso Senhor quem disse:  “Renuncie a ti mesmo?”.  Acho sinceramente que sou uma santa."  

E esse pensamento de ser uma santa foi crescendo na cabeça de Marília.  Não notava ela que nunca houve um santo que não rezasse sozinho,  na mais pura solidão.  Mas que importa.  A sua fé,  que consistia em ir a igreja,  e rezar na igreja,  e somente na igreja,  lhe fazia feliz.  Não creio que o leitor irá duvidar da felicidade de nossa personagem.  Afinal,  ela havia adquirido já em vida a autoconsciência de ser uma alma beata.

 Por isso,  certa vez,  quando a alegria pela autoconsciência de sua santidade já havia crescido tanto na alma iluminada de Marília que ela não agüentava mais segurar dentro dela,   foi até sua paróquia,  dirigiu-se a sacristia e disse a Padre Bonifácio:  Padre,  sua benção, quero me confessar: 

Diga, minha filha,  o Senhor está pronto para te perdoar,  não importa o mal que tu tenhas feito.

Na verdade,  Padre eu não fiz mal nenhum.  Quando irás novamente para Roma conversar com o papa?

Por que,  minha filha,  estás me perguntando isso?

Sabe Padre,  eu vou a Missa sempre que posso,  confesso e comungo com freqüência.  Sou tão santa que não rezo em casa.  Porque rezar em casa é egoísmo e Nosso Senhor disse: “Renuncie a ti mesmo”.  Por isso gostaria que quando tu fores falar com o papa,  peças a ele para abrir o processo da minha beatificação.  Não creio ser necessário um milagre,  como de praxe.  Para que milagre se eu já me sinto uma santa?

O Padre Bonifácio,  perspicaz que era,  notou naquela aparente brincadeira a presença do demônio da soberba, e disse:  Sinto muito,  minha filha,  estás em pecado e não posso te dar absolvição.  Dissestes a verdade quando disse que não rezas em casa.  Deveria rezar.  E rezar muito.  Sugiro o Rosário todos os dias. 

 Dito isso, o Padre deu a Marília um exemplar do livro de São Luís Maria sobre o Santo Rosário.  Marília pegou o livro apenas por educação, e  foi embora braba,  chateada com o Padre.  Dizem,  foi o que me contaram,  que durante semanas lutou consigo mesmo para não ler o livro nem rezar o Rosário.  Afinal,  foi vencida.  Algumas semanas de oração em casa a levaram tomar a decisão de entrar para a Ordem Franciscana e tornar-se uma penitente.  Os que me contaram a estória dela dizem que não havia coisa que Irmã Marília mais gostava do que ser tratada como a pior das pecadoras.  Abençoava a todos que faziam isso.  Dizia serem seus reais benfeitores.  Bom,  pelo menos foi o que me contaram.  Eu não era nascido quando isso aconteceu e os que me contaram ouviram a estória da Madre Superior do Convento das Clarissas aqui de Santa Fé.  Madre Lúcia ela se chamava.  A pobre Marília foi recebida por ela.  Aceitou-a como penitente naquela santa casa.  Deus abençoe a Madre Lúcia.         


4.  Vais acreditar em mim ou nos teus olhos?  (mini-conto) 

Certa vez houve um homem.  Esse homem tinha consciência de que na floresta haviam cobras venenosas. Certo dia foi à floresta passear com um menino de 10 anos,  que estava sob sua guarda.   O menino de 10 anos disse:  “tome cuidado que aqui tem cobras venenosas”.   Mas o homem pensou “esse menino só tem 10 anos,  não tem experiência de vida,  então não devo levar a sério o que ele diz”.   Entrou na floresta,  foi picado por uma cobra venenosa e morreu.    


5.     Uma nova teoria da inteligência

Certa vez numa sala de aula um aluno,  tido como um idiota pelos colegas, fez um comentário.   As vaias foram gerais.  Passado algum tempo outro aluno,  que os colegas imaginavam ser alguém inteligente, fez o mesmíssimo comentário:  Aplausos gerais,  rostos com expressão de admiração.  Mais admirado ainda ficou o professor que queria saber porque agora aplaudiam o colega que havia feito o comentário e antes tinham vaiado o outro colega que havia dito a mesmíssima coisa.   A resposta que ouviu foi:

“Nós não entendemos nada do que eles disseram nem somos capazes de entender,  mas imaginamos que Fulano é um sujeito idiota e por isso para nós tudo o que ele diz é idiotice e imaginamos que Beltrano é um sujeito inteligente e por isso para nós tudo o que ele diz é inteligente.” 

Apoiado na autoridade dessa testemunha o professor chegou à conclusão que tudo o que os psicólogos e filósofos disseram sobre a inteligência está errado.   Veio-lhe à mente uma nova teoria:  a inteligência (ou falta de inteligência) de cada um está na imaginação do outro.  Se se imagina que alguém não entende de um assunto,  mesmo que esse alguém só diga coisas verdadeiras,  tudo o que ele dirá será julgado como coisa errada,  como burrice.  E se se imagina que alguém entende de um assunto mesmo que esse alguém só diga asneiras tudo o que ele disser será julgado como inteligente.    

Com relação às causas da imaginação,  pensou o professor,  pode ser apenas um meio do invejoso se proteger do sofrimento que a inveja lhe causa.  No entanto, cá entre nós,  essa explicação não satisfaz.   Ela não responde como é possível que se imagine que alguém disse algo inteligente.  E parece que as causas são muitas:  o desejo de participar da popularidade ou de não participar da impopularidade daquele que disse o que foi dito.   A amizade ou a inimizade.  Uma maneira de se proteger do sofrimento que vem da consciência de uma deficiência intelectual: alguém fala uma coisa para outra pessoa,  essa outra pessoa não entende e para se preservar do sofrimento da consciência de sua inépcia imagina que o outro falou asneira.  E,  sim,  o desejo do invejoso de se preservar do sofrimento que a inveja lhe causa.  Seja qual for a causa,  em toda sociedade em que as pessoas estiverem mais preocupadas com sua auto-imagem do que com sua inteligência acontecerá o que aconteceu nessa turma de alunos.


6.     O minuano

Capítulo 1

Um casarão numa estância em Bagé,  Província de São Pedro,  Brasil.   2 andares,  2 quartos.  1 para o dono do casarão,  um dos muitos estancieiros da Província,  de nome Pedro, e para sua esposa Adélia e outro para a filha, Clementina.  O ano era 1815.  Os estancieiros da Província de São Pedro estavam enfrentando as invasões dos bugres,  feroz tribo indígena.  Os peões que trabalhavam para o senhor Pedro na defesa da estância  mal podiam comer e beber.  O clima era de revolta.  A qualquer momento podia acontecer uma nova invasão.    

 

Capítulo 2

O índio Tarumã era um dos peões que trabalhavam para seu Pedro.  Era da tribo dos minuanos.  Exímio cavaleiro,  tinha um carinho especial por Clementina,  que,  no entanto,  o desprezava.  Aconteceu que Clementina  pediu permissão para seu pai para tomar banho de lagoa.  A distância da lagoa era suficiente para seu pai ficar preocupado.  Disse que só permitiria se junto com ela fosse um dos homens de sua confiança.  Não podia ninguém melhor que Tarumã,  pois sabia do carinho e cuidado que o índio minuano tinha para com sua filha.   E o pai, seu Pedro,  estava certo de ter essa precaução.  Pois os bugres,  que eram nômades,  haviam instalado uma aldeia perto da Lagoa,  que ficava num vale arborizado ,  entre quatro montes,  um à direita,  um à esquerda,  um ao sul e um ao norte,  todos eles  não muito grandes. 

 

Capítulo 3

  Quando chegaram ao lugar do banho,  Tarumã disse para Clementina que iria subir no monte que ficava à esquerda,   e olhar na direção oposta a direção da Lagoa.  Acreditava que era desse lado que estava a aldeia dos bugres.  Precisava vigiar. 

Capítulo 4

  Enquanto Tarumã vigiava no alto do monte olhando para a esquerda avistou,  no leste,  a aldeia bugre.  Enquanto isso, na estância, todos esperavam a volta deles.  Preocupados estavam com a demora.   Os peões vigiavam junto com seu Pedro,  dona Adélia rezava no quarto.   

Capítulo 5

2 índios bugres tinham feito a volta e escalavam um outro monte, que ficava ao sul do vale.  Estavam inspecionando o território para saber a melhor maneira de fazer a invasão.  Viram Clementina a tomar banho.   Ela os percebeu e quando viu que iriam atacá-la gritou por socorro.  Imediatamente Tarumã ouviu e com o arco já preparado disparou uma flecha.  Depois outra.  A moça perplexa e trêmula assistia tudo sem entender nada do que estava acontecendo.   Tarumã desceu do monte e disse:  vamos daqui,  minha irmã,  teu pai e tua mãe devem estar preocupados.

Capítulo 6

De fato,  estavam preocupados,  e a essa preocupação se somava a revolta dos peões.  Mas algo bom estava acontecendo.  Finalmente Clementina havia reconhecido o quanto havia sido ingrata com seu amigo índio.  Agradeceu-lhe o cuidado e a proteção.  Quando chegaram em casa, seu Pedro e dona Adélia abraçaram a filha e Clementina contou o que Tarumã havia feito por ela.  O estancieiro disse que gostaria que o índio se casasse com sua filha,  pois não poderia encontrar melhor protetor.  E ela,  que antes o desprezava,   com alegria o aceitou como companheiro.

Capítulo 7    

Enquanto comemoravam o noivado, ouviu-se gritos de guerra.  Eram terríveis bugres.  Vendo que eram muitos e que seria impossível resistir a eles, seu Pedro disse para Tarumã:  “foge com minha filha e minha esposa.  Eu e meus peões ficaremos aqui para morrer se for necessário.”  E assim se fez.  Tarumã,   decidiu ir com as duas para o leste,  na direção do Jardim do Éden,  pois,  conhecedor da região como era,   sabia que havia uma redução jesuítica sobrevivente.  Os índios atacaram e apesar de lutarem com bravura seu Pedro e seus peões não puderam resistir ao ataque:  Morreram todos.

Capítulo 8

Enquanto a tragédia ocorria,  lá iam Dona Adélia e sua filha,  para uma nova vida,  acompanhadas do amigo índio.  Mãe e filha iam num cavalo,  Tarumã em outro.  No caminho Dona Adélia teve um pressentimento.  Sentiu-se mal.  Tiveram que parar a viagem.  Foram-lhe prestados socorros.  Porém ela não resistiu.  Suas últimas palavras foram:  “filha,  lembra do pedido do teu pai”.   Assim morreu e foi enterrada num lugar que até hoje permanece desconhecido por aqueles que me contaram essa estória.  Sem a mãe,  Clementina partiu com seu amigo para a redução.    Era lá,  na companhia do seu fiel amigo e assistida pelos padres e irmãos da Companhia de Jesus,  que viveria o resto dos seus dias.     

     


           

  1.   Fábula da toupeira e do gavião 




Personagens 


  • a toupeira

  • sua mãe

  • seu pai

  • o gavião-carijó 

              Elf,  um elfo 

  • Quíron,  um centauro 

  • Fada Viviane 

  • outra fada 



I   


Me contaram que certa vez houve um casal que criava uma toupeira.   Certo dia estavam em sua casa,   alimentando sua toupeira com uma deliciosa e nutritiva refeição feita de algumas minhocas,  nozes e amêndoas.   Em certo momento esse casal vendo que a toupeira queria sair de casa para conhecer as terras onde viviam e julgando ser isso perigoso,  disseram a ela:   “se queres isso,  faça,  mas tome muito cuidado,  porque um monstro horrível,   o gavião-carijó,  devorador de toupeiras,   está por aí.   Ele tem asas e voa no céu procurando alguma toupeira desatenta para devorar.   Tome cuidado.”  



II  


A toupeira ouviu essas palavras de seus pais mas não as levou a sério.   Pensava ela “nunca ouvi falar que existe gavião-carijó,  não sei o que é,  não conheço,  portanto não existe,   não tenho com o que me preocupar”.    




III  


E assim foi passear a toupeira,   movimentando alegremente e despreocupadamente seu corpo cilíndrico,  de vez em quando parando para descansar,   para coçar-se,   para ver se encontrava algo para comer.   Chegou a noite e ainda estava no campo,  fora de casa.  Seus pais começaram a ficar preocupados.   Saíram de casa e olharam para as várias direções.   A oeste havia uma extensa área de campo na qual,  no mais extremo,   habitavam os temíveis gaviões-carijós.   A leste outra área de campo e,  no mais extremo,  uma floresta onde também habitavam gaviões, mas de uma outra espécie.  E não apenas gaviões,  mas outros estranhos seres dos quais não cabe falar agora.  No centro-sul uma cadeia de montanhas separava a estância da zona urbana do município de Toupeiras.   No centro-norte outra cadeia de montanhas separava a estância da zona urbana do município de Serpentes.    A zona rural era comum aos 2 municípios.  O dono da estância era um senhor feudal.   Era muito rico,   suas terras eram muito férteis,   e com muitos rebanhos,  pois podia alimentar sua família,  criados,  e fornecer alimento para duas cidades que delas dependiam.        


IV  

A toupeirinha estava indo para o oeste.   Me contaram,  mas não me disseram porquê,  que seus pais  pensaram que ele tinha ido para a floresta ao leste.   Por isso para lá foram.   Chegando lá encontraram Elf,  um ex-gavião da floresta que fora educado e transformado em elfo pela fada Viviane,  mais conhecida como a Dama do Lago,  que em tempo idos viajara para a Grécia e se casara com o centauro Quíron,  o qual ensinara a Elf as belas-artes e a arte da medicina.       


Conversavam sobre os velhos tempos.  Os eventos aqui narrados se passam muito tempo depois daqueles narrados por aquele grande historiador e cronista que foi Tolkien.   Aliás,  Elf,  o elfo,   conhecera pessoalmente Legolas,   Galadriel,  Arwen  como também a Frodo,   Sam,   Gandalf,   etc.   Pois os elfos vivem muito tempo e já fazia muitas gerações que ele havia sido transformado em elfo pela fada.    Conversavam então sobre os grandes acontecimentos dos tempos passados quando foram surpreendidos com a chegada dos pais da toupeira perguntando se tinham visto ela.         


Disseram que não.   A toupeira estava indo para o oeste.   No lugar onde ela estava ainda não havia gaviões.   O espírito guardião dela avisou-lhe para ela não ir mais para o oeste.  Mas ela não ouviu.   Foi mais longe ainda na direção do Ocidente até chegar no lugar onde acima,  no céu,   havia um gavião-carijó que olhava para baixo esperando encontrar seu alimento.  Ele olhou para baixo e viu a toupeira.   Nesse momento começou a descer.   Quando já estava bem perto a toupeira o viu.   Então algo extraordinário aconteceu.   Uma fada,  que estava a serviço do espírito guardião da toupeira,   transformou-na em um ser humano de forma feminina,  em um ser racional,  por isso mesmo,  em alguém dotado do temor do Senhor,  alguém que sabe que existem muito mais coisas do que aquelas de que tem conhecimento.    E também o gavião-carijó foi transformado pela fada.  Transformado em um ser racional de forma masculina.   E a ex-toupeira agora mulher e o ex-gavião agora homem se casaram.   Foram fazer um piquenique na floresta acompanhados de seus espíritos guardiões e de suas fadas.   Lá estavam Elf,  Quiron e a fada Viviane.  Permaneceram por muito tempo em alegre conversação. 


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