Primeiro livro de poemas
1. Gênesis
Antes de tudo havia uma Natureza, donde tudo vem,
o sempre Desperto, que nunca dorme.
E junto com essa Natureza, co-eterno com Ela,
sempre Desperto com Ela, o Caminho, o Tao,
o Iluminante, que aquela Natureza desperta,
e faz Dele, do Caminho, o Verbo, o Logos
E junto com os dois, co-eterno com os dois,
estava a Iluminação, o Espírito, o Amor.
Assim foi desde o Início e assim sempre será.
Muitas gerações se passaram. Gerações
nas quais os filhos daquela Natureza primordial
suspiravam e ansiavam para que Ela os desse o Tao,
o Caminho, o Verbo, o Logos, o Iluminante.
Assim foi por muitas gerações
Havia uma casinha, simples choupana,
E nela habitava uma virgem, cujo nome era
Puríssima, Estrela do Mar, Senhora Soberana,
Porta do Céu, Mãe Imaculada, Maria.
Havia também uma potência celeste,
um anjo, um deva, cujo nome é:
“Força do eternamente desperto”.
Gabriel olhou para a Porta do Céu
e disse: “Ave, ó plenamente desperta,
cheia de graça, de caridade repleta,
contigo é o eternamente desperto,
sois, entre as filhas da Natureza,
sempre a primeira entre as prediletas.
Maria, cujo nome é Humildade,
com o elogio espantou-se,
e no íntimo seu meditava
o mistério da palavra
pela Força pronunciada,
quando Gabriel para Ela olhou
e disse: “Não te espantes, minha
Senhora, por ti entrará no mundo
o Filho eterno da Natureza Eterna,
o Verbo, o Logos, o Tao, o Iluminante,
o Caminho.
Maria, mais ainda espantada,
perguntou para aquele deva:
“virgem sou e sempre serei,
como serei então essa Porta
do Céu, por onde virá
Aquele que me salvou
quando no ventre materno
fui concebida?
E respondeu a Força:
“a Iluminação, que é o Espírito,
te iluminará, e o eternamente desperto,
o Altíssimo, de sua sombra te cobrirá
Eis porque o Enviado, o Santo, o Rei,
que de ti nascerá, do Altíssimo, Filho
será chamado, porque todo nome pode ser dado
por Aquele que não se pode nomear.
E assim o Verbo, o Logos,
o Caminho, o Tao, o Iluminante,
que está eternamente no seio da
Natureza, o Pai de todos, se fez
carne, e veio habitar entre nós
E foi vista a sua glória, sua luz,
sua vida; vida cheia de graça
e verdade; porque a Lei foi dada
pelos profetas, a Vida, e a Luz,
por um só Salvador, Jesus Cristo,
o filho de Maria.
2. Ode aos Santos Apóstolos
Senhora, reconta-me os milagres do santo glorioso que muito
peregrinou, desde que saiu em missão da cidade sagrada;
em suas andanças muitos lugares conheceu; até a Hispânia
brava o levou o zelo incansável da glória divina.
Os apóstolos, seus companheiros, não abandonou,
mas foi cada um para seu lado, conforme ditou
desígnio divino por vós altíssima Senhora revelado.
A Rocha Apostólica para a eterna cidade,
capital invencível do orbe terrestre,
vencida pelo signo da vergonha,
transformado em dom de vida.
O apresentador de Cristo, irmão
do bem-aventurado filho de Jonas,
foi, por teu mandato, Senhora,
para Cítia, Sogdiana e Cólquida.
Foi até onde termina Europa
de tantas nações e começa
Ásia grandiosa, Oriente misterioso
A Águia Evangélica, teu guardião,
Predileto entre os prediletos
de Cristo, contigo foi para Éfeso sagrada,
Contigo voltou para cidade da Redenção,
A Ti assistiu perenemente, até voares
como pomba imaculada para o Filho divino
Felipe e Tiago, Mateus e Matias,
Simão e Tadeu, Tomé e Bartolomeu
cada um foi derramar o sangue
da Vida em terras inférteis
E mais que todos labutou
aquele Vaso de Eleição,
que fazendo-se devedor
de todos, o nome salvador,
incansável, levou para todos
3. Súplica a todos os santos
Ó santos e santas de Deus Altíssimo,
dignai-vos ouvir nossas preces,
Porque cá embaixo tá tudo ferido.
Tá tudo triste, feio e sem cor,
maculado por tantos disparates
do gênero humano mal-agradecido.
Que mais que Aquele que vós
mais amais fez pela natureza
humana, imaginar não pode
inteligência criada, mas
fica calada, quieta, estupefata,
com a Divina Luz do Amor,
que move o Sol e as estrelas,
move todo o existente, em Si
o prendendo e libertando,
para que nessa prisão libertadora
tenha a vida, o ser e o movimento,
que o Motor Primeiro concede
a tudo o que cria; que só da divina
misericórdia vive. Pois ela somente
pode tirar o que não é,
da prisão do não-ser.
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